10.04.202517:54
Mesmo com a arregada, o fato de que Trump basicamente instituiu e confirmou uma tarifa universal (em 10%) já representa uma ruptura radical com o sistema comercial internacional globalizado tal como o conhecíamos.
As mudanças são irreversíveis.
As mudanças são irreversíveis.
07.04.202521:48
Além do Podcast 3 Irmãos, no próximo fim de semana estarei gravando com o Tiago Carvalho (para publicação em outra data) em São Paulo.


06.04.202501:02
Para um estudo do mito enquanto tal e como emerge a consciência mítica, "Linguagem e Mito" do Ernst Cassirer é uma leitura complementar interessante. Trata (como se pode deduzir) das conexões entre os elementos mencionados no título (mas sem reduzir a relação ao de primazia de um sobre o outro), em uma tese que me parece interessante e que encontra algum amparo naquilo que temos visto nos estudos indo-europeus.
03.04.202501:22
Algumas pessoas tentariam transplantar a questão para a "vida privada" para falar sobre as transformações culturais e familiares pelas quais o Brasil passou entre 1964 e 1985, mas a decadência da família tradicional, a influência da TV, a liberalização dos costumes, tudo isso foi um fenômeno mundial - ou melhor, um fenômeno do Ocidente e dos territórios influenciados pelo Ocidente.
Mesmo na questão militar, as Forças Armadas Brasileiras já eram atlantistas desde a Segunda Guerra Mundial. O regime militar reforçou os laços, mas não os criou.
Em suma, eu acho que foi um período, em geral, ruim. Os militares da época não eram menos tacanhos e cabeça-de-prego do que são hoje. Meteram os pés pelas mãos em quase tudo e abriram o caminho para a desgraça da Sexta República.
Mas o período foi bem menos determinante e significativo do que a maioria pensa. O romantismo exacerbado da esquerda e da direita (de fato, inventadas, tal como as conhecemos, nessa época) falsifica e amplifica a realidade.
Mesmo na questão militar, as Forças Armadas Brasileiras já eram atlantistas desde a Segunda Guerra Mundial. O regime militar reforçou os laços, mas não os criou.
Em suma, eu acho que foi um período, em geral, ruim. Os militares da época não eram menos tacanhos e cabeça-de-prego do que são hoje. Meteram os pés pelas mãos em quase tudo e abriram o caminho para a desgraça da Sexta República.
Mas o período foi bem menos determinante e significativo do que a maioria pensa. O romantismo exacerbado da esquerda e da direita (de fato, inventadas, tal como as conhecemos, nessa época) falsifica e amplifica a realidade.
01.04.202518:07
https://youtu.be/d_y_woWbAQI
Por que, realmente, Marine Le Pen está sendo impedida de disputar as próximas eleições presidenciais na França?
Por que, realmente, Marine Le Pen está sendo impedida de disputar as próximas eleições presidenciais na França?
30.03.202520:57
A pedido dos membros da NR eu montei uma "ordem de leitura" de Platão respeitando a ordem sugerida por Iâmblico, mas incluindo todos os outros textos tradicionalmente considerados autênticos pelos neoplatonistas (ou citados por Aristóteles).
A ordem está estruturada por tópico e, parcialmente, por dificuldade:
Primeiro Alcibíades
Górgias
Eutífron
Apologia de Sócrates
Críton
Fédon
Laques
Cármides
Lísis
Hiparco
Crátilo
Hípias Menor
Eutidemo
Protágoras
Mênon
Teeteto
Teages
Amantes Rivais
Sofista
Menexeno
Minos
Político
Íon
Hípias Maior
Fedro
O Banquete
Filebo
Segundo Alcibíades
Clitofon
República
Leis
Epínomis
Sétima Carta
Timeu
Crítias
Parmênides
Das Epístolas platônicas incluí apenas a Sétima, por ser a única dotada de maior autenticidade, apesar de várias das outras serem consideradas autênticas na Antiguidade.
A ordem está estruturada por tópico e, parcialmente, por dificuldade:
Primeiro Alcibíades
Górgias
Eutífron
Apologia de Sócrates
Críton
Fédon
Laques
Cármides
Lísis
Hiparco
Crátilo
Hípias Menor
Eutidemo
Protágoras
Mênon
Teeteto
Teages
Amantes Rivais
Sofista
Menexeno
Minos
Político
Íon
Hípias Maior
Fedro
O Banquete
Filebo
Segundo Alcibíades
Clitofon
República
Leis
Epínomis
Sétima Carta
Timeu
Crítias
Parmênides
Das Epístolas platônicas incluí apenas a Sétima, por ser a única dotada de maior autenticidade, apesar de várias das outras serem consideradas autênticas na Antiguidade.
09.04.202515:11
https://www.dailymotion.com/video/x9hk5sq
Estive ontem na Telesur para comentar sobre uma cúpula de movimentos sociais organizada no Brasil.
Estive ontem na Telesur para comentar sobre uma cúpula de movimentos sociais organizada no Brasil.
07.04.202519:14
https://www.youtube.com/watch?v=bUO3dmP_W4I
A Globo diz que o grande perigo nos dias de hoje é o "incel". Será verdade?
A Globo diz que o grande perigo nos dias de hoje é o "incel". Será verdade?
03.04.202517:52
Apenas pensadores bombásticos, heterodoxos, fringe, extremistas, radicais, proscritos, sancionados, ousados, desajustados, cancelados, são dignos de leitura.
Esses são os únicos que têm algo relevante a dizer. Que relevância têm as toneladas de textos de um boçal tedioso como Habermas hoje em dia? Há na internet anônimos com nicks esquizoides que souberam entender melhor o mundo contemporâneo do muitos dos catedráticos das melhores universidades ocidentais.
A filosofia nasce com figuras assim, com párias como Sócrates e Diógenes. E Limonov tinha razão quando apontava que toda mudança revolucionária (na política ou nas outras esferas) só podem vir dos desajustados, dos "punks" de todas as eras.
A timidez intelectual, o conformismo acadêmico, o bom-mocismo teórico, considerando a infinitude dos horizontes humanos, são pecados contra o Espírito.
Esses são os únicos que têm algo relevante a dizer. Que relevância têm as toneladas de textos de um boçal tedioso como Habermas hoje em dia? Há na internet anônimos com nicks esquizoides que souberam entender melhor o mundo contemporâneo do muitos dos catedráticos das melhores universidades ocidentais.
A filosofia nasce com figuras assim, com párias como Sócrates e Diógenes. E Limonov tinha razão quando apontava que toda mudança revolucionária (na política ou nas outras esferas) só podem vir dos desajustados, dos "punks" de todas as eras.
A timidez intelectual, o conformismo acadêmico, o bom-mocismo teórico, considerando a infinitude dos horizontes humanos, são pecados contra o Espírito.
02.04.202519:33
O apátrida diz que seria perda de tempo lutar pelo Brasil porque o Brasil não o enche de benesses e vantagens (ou algum retardo mental semelhante).
Ah! Mas se ele morasse num país melhor! Seria o novo Aquiles, sempre na linha de frente! Balela.
Sabemos que isso é mentira pelo exemplo que temos de conflitos contemporâneos. Na Rússia, há algum tempo, imigrantes com pretensões de cidadania são necessariamente convocados para a operação militar especial para provar o seu valor e o seu interesse pelo país.
A maioria esmagadora abre mão e pula fora, preferem desistir da cidadania e até mesmo ser deportados do que derramar seu sangue pelo país para o qual estão migrando.
A realidade é que, como não poderia deixar de ser, o desenraizado dificilmente vai se reenraizar em qualquer outro lugar. O nomadismo (que já é típico da nossa época em muitos outros âmbitos além do "habitar") se integra a sua natureza e o apátrida se comportará como nuvem de gafanhoto.
Ele abandona a sua pátria e vai para outra. Se esta outra lhe fizer exigências de lealdade e sacrifício em troca de cidadania, ele foge também e busca outro buraco no qual se esconder.
É a própria manifestação mais perfeita e contemporânea do parasitismo. Opróbio absoluto sobre as cabeças dessa gente com alma de barata.
Ah! Mas se ele morasse num país melhor! Seria o novo Aquiles, sempre na linha de frente! Balela.
Sabemos que isso é mentira pelo exemplo que temos de conflitos contemporâneos. Na Rússia, há algum tempo, imigrantes com pretensões de cidadania são necessariamente convocados para a operação militar especial para provar o seu valor e o seu interesse pelo país.
A maioria esmagadora abre mão e pula fora, preferem desistir da cidadania e até mesmo ser deportados do que derramar seu sangue pelo país para o qual estão migrando.
A realidade é que, como não poderia deixar de ser, o desenraizado dificilmente vai se reenraizar em qualquer outro lugar. O nomadismo (que já é típico da nossa época em muitos outros âmbitos além do "habitar") se integra a sua natureza e o apátrida se comportará como nuvem de gafanhoto.
Ele abandona a sua pátria e vai para outra. Se esta outra lhe fizer exigências de lealdade e sacrifício em troca de cidadania, ele foge também e busca outro buraco no qual se esconder.
É a própria manifestação mais perfeita e contemporânea do parasitismo. Opróbio absoluto sobre as cabeças dessa gente com alma de barata.
01.04.202500:35
Lawfare Antidemocrático na França
Seguindo os passos daquilo que está acontecendo na Romênia, o Tribunal de Paris decidiu condenar 9 deputados do Reagrupamento Nacional por "corrupção", punindo a candidata posicionada em primeiro lugar nas pesquisas presidenciais com inelegibilidade.
A acusação é de que os deputados em questão teriam usado os fundos europeus de pagamento de assessores para pagar salários para funcionários de seu partido que, supostamente, não teriam, de fato, trabalhado no Parlamento Europeu.
As acusações são frágeis e são negadas pelos réus e, aparentemente, as condenações não eram apoiadas por quaisquer provas materiais, apenas por elementos circunstanciais - o processo em si nasceu de uma denúncia anônima, o que é desconcertante.
Agora, independentemente do caso em questão, a pena de inelegibilidade é obviamente uma decisão política. Ainda mais considerando-se que os juízes decidiram pela execução provisória imediata dela, mesmo apenas com a condenação em primeira instância. Trata-se de uma decisão inédita na França. Inédita porque foi dada especificamente pela ré se tratar de Marine Le Pen, a candidata favorita dos franceses.
O que é pior é que o caso de corrupção em questão ter-se-ia dado no Parlamento Europeu e não na França, mas a inelegibilidade é para disputar as eleições francesas, o que claramente não faz o menor sentido. Seria como se um brasileiro fosse impedido de disputar eleições no Brasil por um crime cometido na Colômbia.
No fim das contas o que acontece é que os juízes franceses estão se substituindo aos eleitores e fazendo uma espécie de "triagem" eleitoral, pré-aprovando os candidatos nos quais o povo, então, terá permissão de votar. É uma "democracia tutelada" pelo Judiciário, modelo que tornou-se hegemônico em boa parte do Ocidente e seus apêndices.
Evidentemente, a decisão intensifica a crise política francesa e vem na medida para tentar salvar o legado de Emmanuel Macron. O problema é que a tentativa de excluir Le Pen da disputa presidencial de 2027 não vai resolver os problemas franceses. Ao contrário, é sinal de desespero e de que os problemas franceses estão apenas começando.
Seguindo os passos daquilo que está acontecendo na Romênia, o Tribunal de Paris decidiu condenar 9 deputados do Reagrupamento Nacional por "corrupção", punindo a candidata posicionada em primeiro lugar nas pesquisas presidenciais com inelegibilidade.
A acusação é de que os deputados em questão teriam usado os fundos europeus de pagamento de assessores para pagar salários para funcionários de seu partido que, supostamente, não teriam, de fato, trabalhado no Parlamento Europeu.
As acusações são frágeis e são negadas pelos réus e, aparentemente, as condenações não eram apoiadas por quaisquer provas materiais, apenas por elementos circunstanciais - o processo em si nasceu de uma denúncia anônima, o que é desconcertante.
Agora, independentemente do caso em questão, a pena de inelegibilidade é obviamente uma decisão política. Ainda mais considerando-se que os juízes decidiram pela execução provisória imediata dela, mesmo apenas com a condenação em primeira instância. Trata-se de uma decisão inédita na França. Inédita porque foi dada especificamente pela ré se tratar de Marine Le Pen, a candidata favorita dos franceses.
O que é pior é que o caso de corrupção em questão ter-se-ia dado no Parlamento Europeu e não na França, mas a inelegibilidade é para disputar as eleições francesas, o que claramente não faz o menor sentido. Seria como se um brasileiro fosse impedido de disputar eleições no Brasil por um crime cometido na Colômbia.
No fim das contas o que acontece é que os juízes franceses estão se substituindo aos eleitores e fazendo uma espécie de "triagem" eleitoral, pré-aprovando os candidatos nos quais o povo, então, terá permissão de votar. É uma "democracia tutelada" pelo Judiciário, modelo que tornou-se hegemônico em boa parte do Ocidente e seus apêndices.
Evidentemente, a decisão intensifica a crise política francesa e vem na medida para tentar salvar o legado de Emmanuel Macron. O problema é que a tentativa de excluir Le Pen da disputa presidencial de 2027 não vai resolver os problemas franceses. Ao contrário, é sinal de desespero e de que os problemas franceses estão apenas começando.
30.03.202512:18
Poderia a IA proporcionar esse tipo de experiência? Imediatamente podemos dizer que não. A Inteligência Artificial é um objeto entre objetos. É um objeto bem feito, mas nada além de um objeto. Ela é tão pouco capaz de apreender qualquer aspecto da verdade quanto capaz de situar-se historialmente em meio a um povo enquanto parte de uma comunidade enraizada. Ninguém estará, 500 anos depois, debatendo as nuances, as intenções, os mistérios e os simbolismos ocultos de uma pintura produzida pelo ChatGPT. Ninguém estará debatendo, se o ChatGPT, enquanto autor de textos, revela influências católicas, pagãs ou gnósticas (como, por exemplo, nos pegamos debatendo sobre Tolkien). Não há nada ali sendo revelado, não há nada que possa "florescer". Ela é como uma fábrica automatizada, capaz de produzir coisas acabadas a partir de algoritmos e bancos de dados pré-programados e nada além. Mesmo que você de a ordem "Crise uma pintura no estilo de Da Vinci, mas retratando uma mulher moderna", o resultado será meramente derivativo, superficial e não será uma obra de arte. Será um entretenimento divertido...que será esquecido em questão de dias (certamente há imagens belas produzidas por IA, mas há alguma que seja memorável, que tenha causado uma profunda impressão em alguém? ainda não vi nenhuma, e mexo em IA há uns anos já).
A IA é incapaz de criar. A criação não se dá pelo embaralhamento de fatores numéricos. Este é um caminho fechado, perpetuamente fechado, para a IA. Ela nunca poderá criar porque ela nunca poderá ser humana.
Nesse sentido, Dugin está certo quando aponta que a IA não possui Dasein - e eis aqui o fio para a próxima reflexão - mas é pouco distinguível do homem que vive inautenticamente (e que, portanto, se fechou para a plenitude existencial do Dasein), na pura cotidianeidade, quase já como uma máquina.
Eu tenho a impressão de que para a maioria das pessoas não faria diferença a substituição de artistas de verdade por IA (há pessoas que querem ver filmes "feitos por IA" já) porque a maioria das pessoas simplesmente não é realmente capaz de contemplar uma obra de arte - já viraram "NPCs", são das Man, autômatos reproduzindo rotinas cotidianas que pouco se distinguem da IA (exceto pelo potencial de, algum dia, despertarem). O autômato de carne (um golem, portanto?) não vê realmente diferença entre uma obra de arte do cinema e a última gororoba vomitada serialmente por Hollywood. Para não colocar em um âmbito inacessível de "filmes chatos", a maioria não veria muita diferença entre Era Uma Vez no Oeste, do Sergio Leone, e As Loucas Aventuras de James West.
Assim, é compreensível a normalização da aceitação da IA. A maioria já consome "arte" produzida em massa por computadores e por autômatos de carne para um menor denominador comum. É a "arte" produzida pela indústria musical ocidental, é a "arte" produzida pelos grandes estúdios de cinema. Esse é o normal, essa é a "arte" dominante com a qual estamos plenamente acostumados há pelo menos uns 50 anos. Não há nada aí a contemplar, tampouco um contemplador, já que o povo não existe enquanto tal, ele foi substituído pela massa.
Agora bem, em que âmbito tudo isso afeta o artista? Por um lado, dizem que apenas os artistas comerciais se verão ameaçados. Por outro lado, dizem que todos os artistas (ou a maioria) será substituída e que o futuro da arte é a Inteligência Artificial. A realidade me parece mais misturada. Se não há mais contemplador digno então ninguém mais sabe distinguir o que é um artista de verdade do que é um autômato de carne produtor de imagens e sons. Então tanto os compositores da Anitta quanto artistas de verdade serão, em alguma medida, afetados pela IA.
A IA é incapaz de criar. A criação não se dá pelo embaralhamento de fatores numéricos. Este é um caminho fechado, perpetuamente fechado, para a IA. Ela nunca poderá criar porque ela nunca poderá ser humana.
Nesse sentido, Dugin está certo quando aponta que a IA não possui Dasein - e eis aqui o fio para a próxima reflexão - mas é pouco distinguível do homem que vive inautenticamente (e que, portanto, se fechou para a plenitude existencial do Dasein), na pura cotidianeidade, quase já como uma máquina.
Eu tenho a impressão de que para a maioria das pessoas não faria diferença a substituição de artistas de verdade por IA (há pessoas que querem ver filmes "feitos por IA" já) porque a maioria das pessoas simplesmente não é realmente capaz de contemplar uma obra de arte - já viraram "NPCs", são das Man, autômatos reproduzindo rotinas cotidianas que pouco se distinguem da IA (exceto pelo potencial de, algum dia, despertarem). O autômato de carne (um golem, portanto?) não vê realmente diferença entre uma obra de arte do cinema e a última gororoba vomitada serialmente por Hollywood. Para não colocar em um âmbito inacessível de "filmes chatos", a maioria não veria muita diferença entre Era Uma Vez no Oeste, do Sergio Leone, e As Loucas Aventuras de James West.
Assim, é compreensível a normalização da aceitação da IA. A maioria já consome "arte" produzida em massa por computadores e por autômatos de carne para um menor denominador comum. É a "arte" produzida pela indústria musical ocidental, é a "arte" produzida pelos grandes estúdios de cinema. Esse é o normal, essa é a "arte" dominante com a qual estamos plenamente acostumados há pelo menos uns 50 anos. Não há nada aí a contemplar, tampouco um contemplador, já que o povo não existe enquanto tal, ele foi substituído pela massa.
Agora bem, em que âmbito tudo isso afeta o artista? Por um lado, dizem que apenas os artistas comerciais se verão ameaçados. Por outro lado, dizem que todos os artistas (ou a maioria) será substituída e que o futuro da arte é a Inteligência Artificial. A realidade me parece mais misturada. Se não há mais contemplador digno então ninguém mais sabe distinguir o que é um artista de verdade do que é um autômato de carne produtor de imagens e sons. Então tanto os compositores da Anitta quanto artistas de verdade serão, em alguma medida, afetados pela IA.
08.04.202500:07
Quando Margaret Thatcher morreu, multidões foram às ruas no Reino Unido e, mais ainda, na Irlanda. Sem papas na língua, os catolicíssimos irlandeses celebravam: "A puta está morta!" (os mais educados trocavam "puta" por "bruxa").
Em situações assim, os apóstolos do bom mocismo (em sua maioria, gente hipócrita e infeliz) apareciam para simular indignação diante das comemorações. Afinal, onde está o "perdão", o "amor cristão", a "misericórdia" de comemorar a morte de alguém?
Usualmente vemos o mesmo tipo de fenômeno se repetir. Morre alguma figura política relevante, um certo número de pessoas comemora, e rapidamente correm os fiscais da moralidade para admoestar contra tamanho "absurdo".
Esses pretensos porta-vozes de Jesus Cristo, porém, deveriam recuar alguns passos humildemente e estudar um pouco melhor o tema. O argumento utilizado por eles é a injunção de "amar o inimigo", de modo que deve-se cultivar uma certa abertura para o Outro mesmo diante das mais graves ofensas e injúrias contra si. Na medida do possível, deve-se buscar perdoá-lo e, certamente, condoer-se por sua alma diante da morte.
O problema aí é que os modernos tomam como dado o significado do inimigo bíblico, e acham que o mandamento apontado possui validade universal para todo e qualquer tipo de desafeto. Não é assim, e isso fica mais claro quando retornamos ao grego e ao latim.
Nós tendemos, nos tempos atuais, a usar a palavra "inimigo" com uma abrangência maior do que a palavra possuía nesses idiomas (relevantes para a exegese bíblica correta) e nas palavras do Nazareno. Os romanos distinguiam entre inimicus e hostis, tal como os gregos distinguiam entre ἐχϑρός (ekthros) e πολέμιος (polemios).
Inimicus/Ekthros é o inimigo privado ou pessoal. Hostis/Polemios é o inimigo público ou político.
O inimicus é a figura com a qual se tem uma desavença por motivos ou incômodos pessoais, por desentendimentos fundamentalmente particulares que não transcendem a esfera privada. É o vizinho fofoqueiro, o parente caloteiro, o colega difamador, o torcedor de time adversário que te agrediu, etc.
O hostis é a figura com a qual se está em uma relação de oposição por motivos essencialmente públicos. É o estrangeiro de um país hostil com o qual se está em guerra, o adepto de uma ideologia que se considera ruinosa para o povo, o traidor de uma causa política que atende aos interesses públicos, o inimigo da fé, etc.
É evidente que o inimigo com o qual Cristo quer que seus seguidores se reconciliam e amem é o inimicus, o inimigo pessoal, o "próximo" que te ofendeu, prejudicou, caluniou, atrapalhou. E isso é orientado por Cristo - entre vários outros motivos - pela sabedoria fundamental em relação à corrosão da alma humana pelo rancor e pelo ressentimento (há, portanto, algo de "nietzscheano" nessa injunção, que nem Nietzsche percebeu claramente [apesar de haver 1-2 aforismos em que ele parece intuir isso]).
Cristo não quer que amemos o hostis, o inimigo público, o inimigo político, o traidor da causa, o inimigo da fé, porque - em geral - não existe a disposição rancorosa e ressentida em relação a este. Simplesmente se entende que ele é um adversário a ser destruído e ponto final, "não é nada pessoal". Ademais, estaríamos diante de um mandamento impossível por causa da dimensão política (e, portanto, potencialmente conflituosa) que é intrínseca ao homem.
Isso é demonstrado com clareza nas elaborações de Santo Agostinho no seu Enchiridion, bem como por São Tomás de Aquino na Suma Teológica, Questões 25 e 40, no sentido de que o "inimigo" a ser "amado" é o "próximo", aquele que te odeia ou te fez mal. Simultaneamente, é legítimo guerrear e confrontar um inimigo em um contexto adequado de natureza política e sob determinadas condições de legitimidade. Acrescente-se, ademais, que no grego comanda-se: "ἀγαπᾶτε τοὺς ἐχθροὺς" (agapate tous ekthrous), usando-se um termo grego para amor (agapan) que significa mais caridade e benevolência do que qualquer outra coisa.
Em situações assim, os apóstolos do bom mocismo (em sua maioria, gente hipócrita e infeliz) apareciam para simular indignação diante das comemorações. Afinal, onde está o "perdão", o "amor cristão", a "misericórdia" de comemorar a morte de alguém?
Usualmente vemos o mesmo tipo de fenômeno se repetir. Morre alguma figura política relevante, um certo número de pessoas comemora, e rapidamente correm os fiscais da moralidade para admoestar contra tamanho "absurdo".
Esses pretensos porta-vozes de Jesus Cristo, porém, deveriam recuar alguns passos humildemente e estudar um pouco melhor o tema. O argumento utilizado por eles é a injunção de "amar o inimigo", de modo que deve-se cultivar uma certa abertura para o Outro mesmo diante das mais graves ofensas e injúrias contra si. Na medida do possível, deve-se buscar perdoá-lo e, certamente, condoer-se por sua alma diante da morte.
O problema aí é que os modernos tomam como dado o significado do inimigo bíblico, e acham que o mandamento apontado possui validade universal para todo e qualquer tipo de desafeto. Não é assim, e isso fica mais claro quando retornamos ao grego e ao latim.
Nós tendemos, nos tempos atuais, a usar a palavra "inimigo" com uma abrangência maior do que a palavra possuía nesses idiomas (relevantes para a exegese bíblica correta) e nas palavras do Nazareno. Os romanos distinguiam entre inimicus e hostis, tal como os gregos distinguiam entre ἐχϑρός (ekthros) e πολέμιος (polemios).
Inimicus/Ekthros é o inimigo privado ou pessoal. Hostis/Polemios é o inimigo público ou político.
O inimicus é a figura com a qual se tem uma desavença por motivos ou incômodos pessoais, por desentendimentos fundamentalmente particulares que não transcendem a esfera privada. É o vizinho fofoqueiro, o parente caloteiro, o colega difamador, o torcedor de time adversário que te agrediu, etc.
O hostis é a figura com a qual se está em uma relação de oposição por motivos essencialmente públicos. É o estrangeiro de um país hostil com o qual se está em guerra, o adepto de uma ideologia que se considera ruinosa para o povo, o traidor de uma causa política que atende aos interesses públicos, o inimigo da fé, etc.
É evidente que o inimigo com o qual Cristo quer que seus seguidores se reconciliam e amem é o inimicus, o inimigo pessoal, o "próximo" que te ofendeu, prejudicou, caluniou, atrapalhou. E isso é orientado por Cristo - entre vários outros motivos - pela sabedoria fundamental em relação à corrosão da alma humana pelo rancor e pelo ressentimento (há, portanto, algo de "nietzscheano" nessa injunção, que nem Nietzsche percebeu claramente [apesar de haver 1-2 aforismos em que ele parece intuir isso]).
Cristo não quer que amemos o hostis, o inimigo público, o inimigo político, o traidor da causa, o inimigo da fé, porque - em geral - não existe a disposição rancorosa e ressentida em relação a este. Simplesmente se entende que ele é um adversário a ser destruído e ponto final, "não é nada pessoal". Ademais, estaríamos diante de um mandamento impossível por causa da dimensão política (e, portanto, potencialmente conflituosa) que é intrínseca ao homem.
Isso é demonstrado com clareza nas elaborações de Santo Agostinho no seu Enchiridion, bem como por São Tomás de Aquino na Suma Teológica, Questões 25 e 40, no sentido de que o "inimigo" a ser "amado" é o "próximo", aquele que te odeia ou te fez mal. Simultaneamente, é legítimo guerrear e confrontar um inimigo em um contexto adequado de natureza política e sob determinadas condições de legitimidade. Acrescente-se, ademais, que no grego comanda-se: "ἀγαπᾶτε τοὺς ἐχθροὺς" (agapate tous ekthrous), usando-se um termo grego para amor (agapan) que significa mais caridade e benevolência do que qualquer outra coisa.


06.04.202517:23
Em 12/04 estarei em São Paulo para ir no Podcast 3 Irmãos.
03.04.202501:50
https://www.dailymotion.com/video/x9h7f1m
Estive hoje na Telesur para comentar sobre a política tarifária do Trump.
Estive hoje na Telesur para comentar sobre a política tarifária do Trump.
02.04.202500:07
https://youtube.com/live/4LdK_oQgFVs
Estarei agora no Geoforça para comentar as notícias geopolíticas da semana.
Estarei agora no Geoforça para comentar as notícias geopolíticas da semana.
31.03.202520:21
https://strategic-culture.su/news/2025/03/13/o-protecionismo-de-trump-aberracao-inedita-ou-retorno-ao-sistema-americano/
Nesse artigo da Fundação Cultura Estratégica eu analiso o protecionismo trumpista à luz da história econômica dos EUA.
Nesse artigo da Fundação Cultura Estratégica eu analiso o protecionismo trumpista à luz da história econômica dos EUA.
30.03.202512:18
Aos entusiastas da tecnologia, portanto, incluindo aí os marxistas, lamento dizer: vocês estão errados. Errados, em primeiro lugar, porque não há inevitabilidade na tecnologia (e apenas NPCs e autômatos de carne pensam nesses termos). A técnica vai e vem. O homem já esqueceu inúmeras tecnologias e mesmo hoje esquece progressivamente uma série de conhecimentos de que ele dispunha há poucas décadas. Retornando à animação - onde a discussão começou - temos há quase 30 anos de "animação 3D" e qual é a grande conclusão dessa saga? A maioria das pessoas preferiria o retorno à animação tradicional. O "mais evoluído" não é o "melhor". Toda animação tradicional ocidental nova que aparece faz sucesso (mesmo quando ela é cheia de defeitos, como Invencível) por um profundo cansaço que a animação 3D nos inspira. Hoje reconhecemos com tranquilidade que sim, Ralph Bakshi e Don Bluth são infinitamente superiores aos designers gráficos 3D nerds produzidos no Vale do Silício. E que, não, Miyazaki não vai ser superado pela IA.
A tecnologia, ao contrário do que dizem os marxistas, não vai emancipar o homem. Ela até hoje não o fez. O homem nunca foi tão limitado e prisioneiro em sua história mesmo com 300 anos de sociedade industrial. Não será a IA que vai libertar o homem quando a TV, o automóvel ou o caixa eletrônico não o fizeram. O avanço da IA, especialmente se, sob os aplausos dos autômatos de carne, ela substituir a maioria dos artistas, vai trazer apenas o empobrecimento da experiência humana. Para termos acesso a arte de verdade, feita por artistas, teremos muito menos opções, teremos que buscar muito mais - teremos talvez até que pagar muito mais. Afinal, tudo tende ao menor denominador comum e o mundo jaz no Maligno.
No Mundo da Quantidade será muito mais barato simplesmente pagar 3-4 especialistas em prompt para produzirem uma animação do que pagar toda uma equipe de artistas excêntricos. Agora bem, é por esse mundo que deveríamos ansiar? Por que e para quê?
A tecnologia, ao contrário do que dizem os marxistas, não vai emancipar o homem. Ela até hoje não o fez. O homem nunca foi tão limitado e prisioneiro em sua história mesmo com 300 anos de sociedade industrial. Não será a IA que vai libertar o homem quando a TV, o automóvel ou o caixa eletrônico não o fizeram. O avanço da IA, especialmente se, sob os aplausos dos autômatos de carne, ela substituir a maioria dos artistas, vai trazer apenas o empobrecimento da experiência humana. Para termos acesso a arte de verdade, feita por artistas, teremos muito menos opções, teremos que buscar muito mais - teremos talvez até que pagar muito mais. Afinal, tudo tende ao menor denominador comum e o mundo jaz no Maligno.
No Mundo da Quantidade será muito mais barato simplesmente pagar 3-4 especialistas em prompt para produzirem uma animação do que pagar toda uma equipe de artistas excêntricos. Agora bem, é por esse mundo que deveríamos ansiar? Por que e para quê?
08.04.202500:07
Aqui é necessário pontuar que se a distinção na Antiguidade quase sempre acompanhava a linha de demarcação entre nacional/estrangeiro, na Modernidade liberal-democrática, em que as sociedades estão fundamentalmente fragmentadas e sempre potencialmente à beira de uma guerra civil, é perfeitamente natural ressaltar essa distinção política em uma esfera interna e tratar o adversário político pelas mesmas concepções que legitimam a hostilidade ao estrangeiro hostil.
Mas isso nem é tão novidade assim, os romanos do "partido popular" (os cesaristas) como Marco Antônio e, especialmente, Augusto, na contramão do modo romano usual, passaram a tratar os optimates como "hostes" (o plural de hostis, aliás) mesmo que eles fossem cidadãos romanos. Em outras palavras, existe legitimidade em dar um caráter público e total à inimizade entre partidos, ou à inimizade contra um traidor de seu partido.
Em suma, não falta com qualquer dever de caridade o homem que comemora a morte de um inimigo público ou político.
Mas isso nem é tão novidade assim, os romanos do "partido popular" (os cesaristas) como Marco Antônio e, especialmente, Augusto, na contramão do modo romano usual, passaram a tratar os optimates como "hostes" (o plural de hostis, aliás) mesmo que eles fossem cidadãos romanos. Em outras palavras, existe legitimidade em dar um caráter público e total à inimizade entre partidos, ou à inimizade contra um traidor de seu partido.
Em suma, não falta com qualquer dever de caridade o homem que comemora a morte de um inimigo público ou político.
06.04.202510:49
Na discussão sobre "o que é pertencer a um povo" tanto os que atrelam essa qualidade ao "ter cidadania" ou "nascer no lugar" quanto os que a atrelam ao "ser descendente" ou "ter sangue" estão nadando na superficialidade.
Esses elementos, de fato, exercem influência sobre o pertencimento, mas não o determinam isoladamente. E para entender isso é necessário compreender que um povo não é um fato da natureza, tampouco um fato geográfico, mas um desabrochar histórico-ontológico e existencial da universalidade humana numa instância circunscrita.
Não há nada na natureza que demarque um povo de outro em exclusividade, tampouco o solo possui qualquer significado aí porque há povos que se mantêm unidos mesmo quando espalhados pelo planeta. A lei das transformações territoriais é independente, em alguma medida dos povos. Fronteiras mudam, e um povo pode se ver dividido entre dois países e seus membros podem passar a ter duas cidadanias diferentes.
Se reconhecermos que o povo é um fenômeno histórico e aceitarmos que essa historicização do povo (ou seja, seu desdobramento) é como uma marcha em direção a - então alcançaremos uma compreensão do povo exatamente como uma comunidade organizada composta por homens que tomaram a decisão de buscar um destino unificado no horizonte.
Pertencer a um povo, portanto, é escolher e aceitar para si a sorte e o azar desse povo em sua marcha, é partilhar suas vitórias e derrotas e, muito mais importante, estar disposto a sacrificar-se, a bater-se com a Morte, pelo povo ao longo desta marcha.
Nisso, os outros fatores retromencionados podem influenciar. Afinal, será mais imediatamente natural que os filhos de um povo abracem o fardo de seus pais, mas isso não é dado. Os descendentes que migram comumente abraçam o destino de um outro povo. Por sua vez, pode acontecer de um filho de estrangeiros na terra daquele povo abraçar integralmente o destino do povo que o acolheu...mas isso também não é dado, e também é raro (veremos isso quando os europeus voltarem a guerrear).
No que concerne o tema, porém, mais me preocupa o fato de que para além de documentos oficiais o fenômeno que vai se tornando dominante é o da apatridia.
Na maioria dos países das Américas e Europa, números crescentes de homens não nutrem qualquer senso de solidariedade e pertencimento com o destino de seu povo. Quanto aos imigrantes e seus descendentes, nem se integram realmente no destino nacional, nem seguem pertencendo ao seu povo original, ficam num limbo.
É um fenômeno de desenraizamento generalizado que aos poucos vai empurrando a humanidade para um estado de nomadismo planetário no qual os povos só existirão como formalidades burocráticas em passaportes e identidades, mas não existirá qualquer povo (e, portanto, qualquer cultura e qualquer tradição) imbuído de uma missão histórica sobre a face da terra.
Esses elementos, de fato, exercem influência sobre o pertencimento, mas não o determinam isoladamente. E para entender isso é necessário compreender que um povo não é um fato da natureza, tampouco um fato geográfico, mas um desabrochar histórico-ontológico e existencial da universalidade humana numa instância circunscrita.
Não há nada na natureza que demarque um povo de outro em exclusividade, tampouco o solo possui qualquer significado aí porque há povos que se mantêm unidos mesmo quando espalhados pelo planeta. A lei das transformações territoriais é independente, em alguma medida dos povos. Fronteiras mudam, e um povo pode se ver dividido entre dois países e seus membros podem passar a ter duas cidadanias diferentes.
Se reconhecermos que o povo é um fenômeno histórico e aceitarmos que essa historicização do povo (ou seja, seu desdobramento) é como uma marcha em direção a - então alcançaremos uma compreensão do povo exatamente como uma comunidade organizada composta por homens que tomaram a decisão de buscar um destino unificado no horizonte.
Pertencer a um povo, portanto, é escolher e aceitar para si a sorte e o azar desse povo em sua marcha, é partilhar suas vitórias e derrotas e, muito mais importante, estar disposto a sacrificar-se, a bater-se com a Morte, pelo povo ao longo desta marcha.
Nisso, os outros fatores retromencionados podem influenciar. Afinal, será mais imediatamente natural que os filhos de um povo abracem o fardo de seus pais, mas isso não é dado. Os descendentes que migram comumente abraçam o destino de um outro povo. Por sua vez, pode acontecer de um filho de estrangeiros na terra daquele povo abraçar integralmente o destino do povo que o acolheu...mas isso também não é dado, e também é raro (veremos isso quando os europeus voltarem a guerrear).
No que concerne o tema, porém, mais me preocupa o fato de que para além de documentos oficiais o fenômeno que vai se tornando dominante é o da apatridia.
Na maioria dos países das Américas e Europa, números crescentes de homens não nutrem qualquer senso de solidariedade e pertencimento com o destino de seu povo. Quanto aos imigrantes e seus descendentes, nem se integram realmente no destino nacional, nem seguem pertencendo ao seu povo original, ficam num limbo.
É um fenômeno de desenraizamento generalizado que aos poucos vai empurrando a humanidade para um estado de nomadismo planetário no qual os povos só existirão como formalidades burocráticas em passaportes e identidades, mas não existirá qualquer povo (e, portanto, qualquer cultura e qualquer tradição) imbuído de uma missão histórica sobre a face da terra.
03.04.202501:22
Sobre o golpe militar de 1964 aquilo que mais me espanta é o quão central o evento e o período inaugurado por ele foram para a construção dos imaginários da direita e da esquerda - raiz, portanto, da polarização atual.
De resto, apesar de ser o período mais dramatizado e debatido, não me parece ter sido a época mais determinante do século XX no nosso país. O centro da história brasileira no século XX não é o período militar, rebarba marginal dos impulsos estadunidenses por garantir seu "quintal" no acirramento da Guerra Fria.
A direita trata como um momento de "salvação", a esquerda como se tivesse sido a interrupção de um glorioso e inevitável caminho.
A realidade é que o governo de João Goulart já estava extremamente fragilizado e instável, com poucas chances de sucesso mesmo que não tivesse havido golpe militar. João Goulart tinha ótimas intenções e uma boa equipe de ministros, mas pegou o país no pior momento possível, e a postura dele não era a adequada para o país naquele momento. O Brasil, em 1964, não tinha necessariamente qualquer caminho pavimentado para se tornar a China, sendo sincero.
Do outro lado, evidentemente os militares não salvaram o Brasil de nada. Não havia revolução comunista sendo preparada, nem por João Goulart, nem por qualquer movimento de massas. A revolução armada era o delírio infanto-juventil de uns quantos universitários e militantes profissionais enfeitiçados pelo guevarismo. O mito da "ameaça comunista" sempre não passou de um espantalho e o fato do golpe ter se dado em 1 de abril, o Dia da Mentira, é bastante condizente.
Boa parte das tendências negativas do Brasil já estava posta e só se aprofundaram nesse período. Os militares nada fizeram contra o progressismo moral e cultural da época - preocupados que estavam com o bicho-papão comunista - ao contrário, ajudaram a promovê-lo. Sob o governo dos militares, aliás, se entrincheiram as facções criminosas recém-nascidas com apoio de oficiais de baixa patente. Mas o problema das favelas, que é a raiz do problema, foi herdada dos governos anteriores pelos militares.
Por outro lado, no plano econômico, o regime militar deu continuidade parcial ao desenvolvimentismo trabalhista, ainda que de forma mais errática e às custas de um imenso endividamento com a Banca internacional.
Em alguma medida o período foi bastante relevante para a cultura brasileira. Mas isso fundamentalmente pelas conexões íntimas entre os artistas do Rio de Janeiro e a própria Rede Globo, e pelo fato de que após a queda do regime militar os artistas da época foram retroativamente consagrados como "gênios", também pela Globo. Ademais, muitas das tendências culturais da época já estavam em gestação ou se desenvolvendo, como a bossa nova. Nada disso foi especificamente por causa do regime militar, apesar de que já naquela época Caetano Veloso e sua turma já gostavam de simular e performar "resistência política" (quão pouco o mundo mudou!).
Mais significativo e diretamente ligado à ditadura militar foi a introdução da USAID no Brasil. Mas o Brasil já era fortemente influenciado pelos EUA; não obstante, a USAID formalizou o controle exercido por Washington sobre os currículos brasileiros.
No campo positivo, para compensar, foi também nesse período (mais especificamente sob Geisel) que o Brasil voltou a ter uma política externa soberana depois de décadas. Mesmo a política externa de Goulart foi mais tímida que a de Geisel e se fôssemos comparar ambos, na prática, Goulart quase pareceria sionista perto de Geisel. Isso, tal como o projeto da bomba atômica, foi efêmero. Nada disso perdurou.
O programa nuclear brasileiro, por outro lado, de fato pertence a essa época e perdurou mesmo após o fim do regime militar, apesar da democracia praticamente tê-lo abandonado.
De resto, apesar de ser o período mais dramatizado e debatido, não me parece ter sido a época mais determinante do século XX no nosso país. O centro da história brasileira no século XX não é o período militar, rebarba marginal dos impulsos estadunidenses por garantir seu "quintal" no acirramento da Guerra Fria.
A direita trata como um momento de "salvação", a esquerda como se tivesse sido a interrupção de um glorioso e inevitável caminho.
A realidade é que o governo de João Goulart já estava extremamente fragilizado e instável, com poucas chances de sucesso mesmo que não tivesse havido golpe militar. João Goulart tinha ótimas intenções e uma boa equipe de ministros, mas pegou o país no pior momento possível, e a postura dele não era a adequada para o país naquele momento. O Brasil, em 1964, não tinha necessariamente qualquer caminho pavimentado para se tornar a China, sendo sincero.
Do outro lado, evidentemente os militares não salvaram o Brasil de nada. Não havia revolução comunista sendo preparada, nem por João Goulart, nem por qualquer movimento de massas. A revolução armada era o delírio infanto-juventil de uns quantos universitários e militantes profissionais enfeitiçados pelo guevarismo. O mito da "ameaça comunista" sempre não passou de um espantalho e o fato do golpe ter se dado em 1 de abril, o Dia da Mentira, é bastante condizente.
Boa parte das tendências negativas do Brasil já estava posta e só se aprofundaram nesse período. Os militares nada fizeram contra o progressismo moral e cultural da época - preocupados que estavam com o bicho-papão comunista - ao contrário, ajudaram a promovê-lo. Sob o governo dos militares, aliás, se entrincheiram as facções criminosas recém-nascidas com apoio de oficiais de baixa patente. Mas o problema das favelas, que é a raiz do problema, foi herdada dos governos anteriores pelos militares.
Por outro lado, no plano econômico, o regime militar deu continuidade parcial ao desenvolvimentismo trabalhista, ainda que de forma mais errática e às custas de um imenso endividamento com a Banca internacional.
Em alguma medida o período foi bastante relevante para a cultura brasileira. Mas isso fundamentalmente pelas conexões íntimas entre os artistas do Rio de Janeiro e a própria Rede Globo, e pelo fato de que após a queda do regime militar os artistas da época foram retroativamente consagrados como "gênios", também pela Globo. Ademais, muitas das tendências culturais da época já estavam em gestação ou se desenvolvendo, como a bossa nova. Nada disso foi especificamente por causa do regime militar, apesar de que já naquela época Caetano Veloso e sua turma já gostavam de simular e performar "resistência política" (quão pouco o mundo mudou!).
Mais significativo e diretamente ligado à ditadura militar foi a introdução da USAID no Brasil. Mas o Brasil já era fortemente influenciado pelos EUA; não obstante, a USAID formalizou o controle exercido por Washington sobre os currículos brasileiros.
No campo positivo, para compensar, foi também nesse período (mais especificamente sob Geisel) que o Brasil voltou a ter uma política externa soberana depois de décadas. Mesmo a política externa de Goulart foi mais tímida que a de Geisel e se fôssemos comparar ambos, na prática, Goulart quase pareceria sionista perto de Geisel. Isso, tal como o projeto da bomba atômica, foi efêmero. Nada disso perdurou.
O programa nuclear brasileiro, por outro lado, de fato pertence a essa época e perdurou mesmo após o fim do regime militar, apesar da democracia praticamente tê-lo abandonado.


01.04.202523:30
Pra quem se interessa pela religião dos gregos antigos essa obra aqui é um bom livro básico para introduzir a espiritualidade helênica.
31.03.202518:20
https://youtu.be/VB5NQdqoGHk
Acusação de violência doméstica sem exame de corpo de delito? É isso que estão tentando implantar no Brasil. Mais uma pá de cal na viabilidade dos relacionamentos entre homem e mulher.
Acusação de violência doméstica sem exame de corpo de delito? É isso que estão tentando implantar no Brasil. Mais uma pá de cal na viabilidade dos relacionamentos entre homem e mulher.
30.03.202512:18
Um estúdio para o qual determinados tipos de arte sejam meio e não fim (pensemos o papel da concept art em um estúdio de videogame) pode simplesmente abrir mão dos artistas para terceirizar a função para a IA. Alguns, inclusive, arriscarão terceirizar elementos do produto final para a IA, enquanto torcem para que ninguém perceba. Uma denúncia diz que roteiros de filmes de cinema já são produzidos por IA. Bem, são tão ruins (ou um pouco piores) quanto os de filmes comerciais dos anos 90. É importante lembrar, porém, que nem só de "obras-primas" vive o verdadeiro artista. Todo artista produz, também, comercialmente (e quando ele é bom mesmo nem por isso deixa de ser obra de arte). Da Vinci trabalhava para a aristocracia italiana. Quadrinhistas avantgarde trabalham também na Marvel e DC. O estreitamento dos caminhos do artista profissional inevitavelmente terá impacto sobre a capacidade dos artistas produzirem obras de arte desinteressadas.
Finalmente, vou abordar o que me parece mais perturbador em toda a questão: o entusiasmo pela IA e os propagadores de sua "inevitabilidade".
Não vou discutir sobre como as coisas serão, porque o mundo é absurdo e mesmo as coisas mais inadequadas, bizarras e equivocadas podem de fato acontecer, já que vivemos no pior dos mundos e Mordor venceu.
Naqueles que creem que a IA pode substituir os artistas, além de uma incompreensão fundamental sobre o sentido da arte e sobre o papel do artista, existe um delírio que os cega para a impossibilidade de quantificar a qualidade. A IA é um objeto que não faz nada além de embaralhar dados com base em algoritmos a partir de determinados impulsos externos (os "prompts"). A IA produz "arte" como o autômato de carne embaralha ingredientes para "personalizar" um sanduíche do Subway. Não é isso que o artista faz. Primeiro, porque o artista é homem e enquanto homem ele não pode ser reduzido a número, a conjuntos de dados, a banco de dados, a algoritmos e equações. Apesar da pós-modernidade apontar nessa direção, não é isso que o homem é. O processo criativo não é como uma máquina caça-níqueis que você aciona com uma alavanca e ela embaralha informações para produzir algo original.
O artista como desvelador de um vislumbre da verdade exerce um opus que se dá na dimensão da qualidade. Você não pode reproduzir Thomas Mann por uma decodificação do vocabulário, intervalos entre determinadas expressões, tamanhos médios de parágrafos ou preferência por determinados temas. Não existe um algoritmo para as estátuas anônimas dos Deuses gregos, por trás de cujos olhos se consegue entrever a função divina específica. Não existe "desenvolvimento técnico" que possa dar conta da qualidade em qualquer âmbito da experiência humana. O mundo dos autômatos é fundamentalmente horizontal (mais dados, processamento mais rápido, hardware mais potente, etc.), e não vertical. Não existe transferência possível de um âmbito para o outro porque a qualidade jamais pode ser quantificada.
Por que vocês acham que apesar de séculos de "evolução técnica" ainda não temos um novo Mozart? Por que não há, nesses prodígios musicais asiáticos, um Mozart chinês? Porque não se trata de domínio aperfeiçoado de uma técnica quando estamos falando de Mozart, Beethoven ou Wagner, mas de uma potência demiúrgica à qual os artistas têm acesso...e as máquinas não têm, e jamais terão.
Finalmente, vou abordar o que me parece mais perturbador em toda a questão: o entusiasmo pela IA e os propagadores de sua "inevitabilidade".
Não vou discutir sobre como as coisas serão, porque o mundo é absurdo e mesmo as coisas mais inadequadas, bizarras e equivocadas podem de fato acontecer, já que vivemos no pior dos mundos e Mordor venceu.
Naqueles que creem que a IA pode substituir os artistas, além de uma incompreensão fundamental sobre o sentido da arte e sobre o papel do artista, existe um delírio que os cega para a impossibilidade de quantificar a qualidade. A IA é um objeto que não faz nada além de embaralhar dados com base em algoritmos a partir de determinados impulsos externos (os "prompts"). A IA produz "arte" como o autômato de carne embaralha ingredientes para "personalizar" um sanduíche do Subway. Não é isso que o artista faz. Primeiro, porque o artista é homem e enquanto homem ele não pode ser reduzido a número, a conjuntos de dados, a banco de dados, a algoritmos e equações. Apesar da pós-modernidade apontar nessa direção, não é isso que o homem é. O processo criativo não é como uma máquina caça-níqueis que você aciona com uma alavanca e ela embaralha informações para produzir algo original.
O artista como desvelador de um vislumbre da verdade exerce um opus que se dá na dimensão da qualidade. Você não pode reproduzir Thomas Mann por uma decodificação do vocabulário, intervalos entre determinadas expressões, tamanhos médios de parágrafos ou preferência por determinados temas. Não existe um algoritmo para as estátuas anônimas dos Deuses gregos, por trás de cujos olhos se consegue entrever a função divina específica. Não existe "desenvolvimento técnico" que possa dar conta da qualidade em qualquer âmbito da experiência humana. O mundo dos autômatos é fundamentalmente horizontal (mais dados, processamento mais rápido, hardware mais potente, etc.), e não vertical. Não existe transferência possível de um âmbito para o outro porque a qualidade jamais pode ser quantificada.
Por que vocês acham que apesar de séculos de "evolução técnica" ainda não temos um novo Mozart? Por que não há, nesses prodígios musicais asiáticos, um Mozart chinês? Porque não se trata de domínio aperfeiçoado de uma técnica quando estamos falando de Mozart, Beethoven ou Wagner, mas de uma potência demiúrgica à qual os artistas têm acesso...e as máquinas não têm, e jamais terão.
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