Eu continuo achando que ter muitos filhos é algo bom, porém não terei outros justamente porque é inviável. Não digo inviável financeiramente, como se dinheiro fosse o motivo primordial, mas a estrutura familiar de 100 anos atrás não existe mais. Parte é por conta da telecomunicação e sua consequente pasteurização das opiniões individuais e locais e outra parte é pelo modelo econômico monopolista que, ao meu ver, chegou a níveis irreversíveis senão por uma revolução ou movimento de pessoas conscientes e corajosas que buscarão um retorno ao modelo antigo de vida. Ou seja, irreversível.
Não se pode mais contar com irmãos e irmãs, primos ou primas, tios ou tias para ajudar na construção de uma casa, bater uma laje, olhar as crianças, ajudar em tudo aquilo que uma família pode fazer. Por mais numerosa que uma família seja, cada um está com a cara enfiada no celular, no tablet, na smart tv em seu quarto. Cada um tem seu app para falar com pessoas do outro lado do mundo (este mesmo aqui, por exemplo) ou para falar com pessoas desconhecidas nas redes sociais. Cada um preso em seu próprio universo.
Antes dos inventos tecnológicos das últimas décadas, tínhamos algo mais analógico e um tanto alienador também: jornais. Cada um lia o que lhe apetecia e se sentia informado, conhecedor, debatedor. As mulheres liam livros ou os contos dos jornais. Liam as fofocas, os babados da época. A fofoca da "High-society". Por ser um modo mais analógico de informação, era menos danoso, mas o que temos hoje é a mesma coisa, só elevado a enésima potência.
Toda a rede de segurança familiar criada ao longo dos séculos foi destruída por uma simples coisa: segurança. Seja monetária, patrimonial, "familiar", mental, etc. O mundo e as pessoas não eram perfeitas antigamente, mas a imperfeição de cada um era sanada um pelo outro quando cada um se dispunha a pôr suas rusgas de lado e estender a mão ao parente, amigo ou vizinho necessitado. Hoje em dia, essas são as últimas pessoas que pensamos em contar.
O que eu vejo que precisa ser feito antes de se ter uma família numerosa é criar essa rede de segurança novamente. É possível? Sim. É factível? Talvez, mas tudo começa com um planejamento, com algum esforço da imaginação e da ação em nutrir física, intelectual e espiritualmente os nossos filhos hoje. E entendam, por mais que hoje em dia esteja difícil de se encontrar alguém decente para forma a sua própria, a família, estrutura criada por Deus como sustento de toda a raça humana e de onde Deus mesmo, em Cristo Jesus, veio a este mundo, é o maior tesouro pelo qual se pode lutar. Não sem motivo a própria Igreja é onde os irmãos em Cristo se reúnem.
Quem dera os padres, pastores e famílias piedosas, numerosas ou não, tivessem a consciência da necessidade da recriação deste senso de comunidade local baseada em famílias como cerne da restruturação social que tanto almejamos.
